Canto de Solidão
Ao som de um agudo e irreconhecível som que transmite um vazio, manténs-te sentado em contemplação niilista.
O parado e o vazio acalmam a tua mente e deixam-te em paz. Enquanto não fizeres nada, não falares com ninguém, tudo se enterra no lodo e mantém-se igual. E igual é felicidade, é previsibilidade, é segurança.
Doce feixe de luz que ilude os teus olhos e te faz ver a inexistente beleza do mundo, mas não neutraliza o frio e a ansiedade que apertam o teu peito.
Sabendo que não podes partilhar isso com ninguém, interrogas-te sobre o porquê de seres assim e se mais alguém sente essas sombras que também sentes.
Frágil, tentas trazer beleza ao mundo, mas tudo é constantemente desvanecido por devoradores de sonhos e exterminadores da esperança. Poderia existir alguém que impedisse o teu despedaçar, que te segurasse de alguma forma, de alguma maneira, mas ninguém surge e nada acontece. Então, lentamente falhas, e o tempo acaba por te corroer, apagando-te com a sua brisa obliterante. És uma cópia de uma memória já desvanecida no tempo.