Comunhão

Meia luz

Laços de apetite canibal que nos preenchem

ligam-nos

amarram-nos

Em silêncio desces sobre mim,
vivemos assim

ouroboros com dentes, suor e loucuras noturnas

eu a devorar-te
tu a consumires-me

Na madrugada dos meus delírios entro no teu mundo, succubus in diaboli,

no véu do teu intervalo melancólico
mancubus pertencente ao teu abismo

sou-te satisfação por amante-demónio

Senta-me em bafienta poltrona
vermelha-sangue-túmulo
em silêncio percorres-me nas tuas mãos,

oh a minha carne....

Beijas-me e afastas-te, e nesse momento iniciamos a viagem que queríamos longa

...mas demasiado cedo nos vem a fome por carne

tu vampira e eu em êxtase

dEUS é extropiado
de joelhos,
rezemos com carnal altar entre nós
manchas eróticas no equilíbrio entre dois soturnos

recebes-me como rei vindo das estrelas, de unhas negras, antes de me queimares com as tuas chamas

suspiro-te o nome...

mergulhas-me em ti, nos teus lábios de holocausto vermelho-sangue

sei que em ti me espera homicídio com o teu beijo sepulcral,

tu que me olhas enquanto me consomes...
em carni-carrossel de linguísticas predições.

Nascemos sob a marca das cinzas,
sob feitiço que nos dobra e nos faz espasmar em fluidos que se acrescem sob vontades violentas de golpes insanos na carne em busca de libertação eroti-obscura

A ambição é durar nos teus lábios, em êxtase eterno dando-te pedaços de mim para te satisfazeres no teu recanto

ao compasso do meu coração que bate pela tua jugular,

esse lábios e a tua pele que me despertam criaturas-pecado, que me atravessam na tua floresta de segredos, repleta de imaginações de mim.


Nas tuas mãos, redenção do mundo dos mortos, por corrupção que anseio

O meu apetite por ti molhado
a tempestade cresce, vento urge-nos

No teu rosto de pele-pérola-branca
venus-armadilha-tua
o que se aproxima pára-me a razão
coagula-me as veias
impossibilita-me o coração

devoras-me...
devoras-me...
esperas-me em fluxo...
esperas-me em inferno...

Fazes-me pulsar neste doentio teatro macabro, onde a minha luxúria te aquece a boca por desejo liberto nas ondas da tua língua, que se torce como manticora em ensejo.


Sentes a escravidão desejada de domínio por ti pedido?

Sentes o horror pós-febre...quando provas o que imaginaste e assim te deixas...saboreada por mar salgado ou doce...mas não monótono?


Nunca paraste...a finitude do consumo, demónio que se exerce no pulso de quem existe em clímax...

És meia noite de libertação servida em submissão.

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Venus Aversa