Venus Aversa
O quarto mergulha-se na negrura da nossa complicação, em noite enfeitiçada
Sentes-me como ando, respiro,
e me expando em brisa quente à tua volta.
Ouves-me lobo, olho-te cordeiro.
Detenho-me a milímetros de ti
os meus lábios a um suspiro dos teus
desabrocha-te a boca
impele-te exalação carnívora
de apetite contido no teu peito
em jaula que te condiciona urgência.
Perverso, digo-te: - ‘senta’
para que me sintas dentro da tua cabeça,
em ti, na palavra que te vibra os lábios sem te dar a conhecer os meus.
Obedeces.
Domínio por expectativa, não submissão.
Aproximo-te o rosto da minha pele,
quero que a conheças, que prevejas a submersão que nos fará
olvidar,
apagar,
diluir,
perder
A inominável tensão da tua aproximação... nada feito por momento, o suficiente para ritmar o coração.
Ajoelho, nivelando-me ao teu sentar.
Tateio o vazio, exuberante impulso, elétrica a tua pele encontrada.
Deslizo por ela com ponta de dedos em exultação de vontade
mapeio-te em dedilhar rítmico
encontro-te no inalar do teu cheiro,
onde ébrio,
me transcendo no teu pescoço, amarrado pelos teus cabelos.
Inspiro, aspiro-te para mim,
saboreio-te a fragrância,
crias-me imaginações sobre outros sentidos....
salivo em prelúdio... de te fazer.... sentir... o degustar do teu sagrado...
Arrasto-te os meus lábios,
que guiam ponta de língua na tua pele,
desde a jugular ao lóbulo da orelha,
onde me ancoro com dentes que te querem em perigo.
Sabes a eletricidade, depravação e vontade.
Procuras-me, por fome a saciar.
Aperto-te em abraço, a pele que se encontra em frenesim lascivo
respiramos fundo, em pausa onde nos sentimos um no outro
onde nos entramos sem o fazermos.
Desancoro-me,
o cabelo tapa-te o rosto de rainha de copas,
gota de suor brilha-te nesta febre ritualística.
És súcubus em noite-alma.
A lua banqueteia-se na pele do teu peito,
que beijo,
que provo,
que sorvo
Inerte, transmutada por frenesim
deténs-te no lento consumo de prazer que flui de mim para ti,
tensiona-te o corpo
dilata-te a dormência no teu pequeno coração, ansioso por pressão.
Em vela, em quente sopro,
viajo pelo teu ventre, com loucuras suspiradas em carícias,
guiado pelas tuas coxas
avanço
em beijos violentos de desejo,
provando-te cada milímetro delas
sinto-te em calor,
mais perto...
perto...
em direção ao divino
ao meu deleite
à tua ascensão
sublimas-te em murmúrio contido,
pela minha língua que te inunda
em dimensões que te alheiam desta realidade.
Quase em ti... preparo intento de morte à tua ansiedade.
Consegues...
o calor...
sente-lo a chegar?
o humedecer
a minha boca
e o enquadrar por entre as tuas trémulas pernas...
consegues sentir o calor....
o completo... abocanhar....
como não saborear?
como não sorver tudo o que de ti vem,
pulula,
vibra,
aquece.
As tuas mãos, tiranas na minha nuca,
exigem-me o que queres teu
arqueias-te, convulsa em pressão na minha boca,
onde te esfregas,
ordinária, animalesca
lobo-mulher em carne-cordeiro
fechas-me os sons, no cardíaco das tuas coxas, violentas no bombear que te impele à minha usura.
Tranco-te em braços, ergo-te à consumação
empurras-te a mim
insanidade enquanto te consumo,
abarcada no pulsar,
em cada bater
o vácuo,
o tintilar
o lamber
Cada contração um grito
ao ires-te e vires-te
pupila dilata
pulsas-te quando te exorcizo o prazer do corpo
ao receber-te
completa
no que me deste
em doce degustação
quando te vais e vens
entre o cá e o lá
pêndulo de relógio desnorteado