O Homem no Barracão
Dou corda ao meu relógio, enrolando-o em torno do pescoço do meu antepassado. Olho para o rosto do meu familiar, sufocado pelas paixões, entupido por sonhos não realizados. A doutrina de fazer sem as crianças verem proporcionou uma tarde abusiva, em que o sol me espreitava pela janela e o sangue familiar, coagulado pela luxúria, exercia-se em mim.
Não digas nada quando ela voltar. Ela não pode saber ou sequer desconfiar. Todos vivemos em torno de castelos ocos, assentados na necessidade de segurança que os filhos pequeninos nos conferem.
Relembro-te deste passado onde te aprisionei o espírito e enegreci o teu coração, fiz de pântano o teu jardim, onde nada será algum dia firmado, e a esterilidade manter-se-á eterno sal da terra.
Nas amplas avenidas feitas do tecido das tuas negações, tecidas por convicções robustas no seu vazio, não vês o corredor estreito, o umbral por onde caminhas, nem o canto em que te encurralas.
A vida sob constante compressão alivia-se na dispersão súbita que o cano duplo cerrado nos propicia.