A Queda (Reflexão sobre amordeçamento ideológico)

Sou adivinho… consigo prever o futuro… pois os meus dias são sempre iguais… sem exceção…

Condicionado pela supressão das minhas capacidades mentais… guilhotino a minha inteligência… para não correr o risco de que eles… os verdadeiros sábios, os senhores do conhecimento quotidiano, notem a minha apatia por “inputs” que embrutecem, aparvalham e estupidificam todas as ovelhas… dispostas em montras… para nossa satisfação.

Endoideço de solidão; tão cruel é esta prisão autoimposta que, quando berro… o emudecimento é notório, imediato… na mesma proporção da ausência do meu tom… da minha voz… como a nulificação do bater do meu coração.

Às vezes, como um fogo de artifício, na escura existência a que me forçam a perpetuar, pequenas ondas de ténues declarações surgem…

De mim para o mundo…

Como um prelúdio de pensamento… da salvação mediocridade; mas logo sou aturdido pela impressionante pancada do comunitário Martelo da Alienação. Movo-me como um fantasma… absorvendo sombras, seguro no medo dos outros… medo de tamanha assombração.

Contenho-me… e para o exterior não extravasa… mas dentro de mim existe um derramamento meu… para, até agora, a única taça que me ampara sem entornar, eu mesmo…

Só, em mim, comigo, sempre para auto-nutrição… crio, paro, vomito e regurgito a vida do real ser que tenho dentro de mim… e à medida que me apago… que estas folhas onde desaguo… sejam testemunhas de que nem sempre fui como sou… que um dia VIVI

Vibrei

Sonhei

Pari

Criei

Contorci

Orgasmei

Consumi

Sangrei

Previous
Previous

Confessionário

Next
Next

A Grande Mãe